
Exposição permanente
O que se perdeu, não pode ser recuperado; mas salvemos o que resta: não através de cofres e de trancas, que o furtariam aos olhos e ao uso do público, consignando-o ao desperdício de tempo, mas por essa multiplicação de cópias que o colocará fora do alcance do acidente. (Thomas Jefferson, apud. Elizabeth L. Lisenstein, The Printing Press as an Agent of Change, Cambridge: University Press, 1979, 1: 116)
O Museu INATEL tem por missão principal assegurar a preservação do acervo museológico à sua guarda, coligido ao longo de quase 9 décadas, e divulgá-lo ao grande público.
Genericamente, pode afirmar-se que a prática da museologia, à semelhança do que sucede com a arquivística, busca o compromisso e o justo equilíbrio entre duas realidades antagónicas e aparentemente inconciliáveis: a preservação das espécies para memória futura e a sua divulgação.
Ciente desse paradoxo, bem como dos novos desafios da sociedade moderna, em que o direito à informação não pode ser ignorado, a Fundação INATEL, através do seu Centro de Documentação e Arquivo Histórico | Departamento de Cultura, tem vindo a promover as soluções adequadas à preservação dos acervos à sua guarda, nas suas diversas vertentes, quer no que respeita ao seu acondicionamento, quer no que concerne à sua disponibilização ao público.
O Museu INATEL surge, assim, da consciencialização da importância de assegurar a preservação dos fundos documentais e museológicos da Fundação INATEL – amplamente reconhecida a sua importância, quer pela sua dimensão, riqueza e diversidade, quer pela relevância que assume no âmbito do estudo da história da contemporaneidade portuguesa –, mas também da necessidade responder positiva e eficazmente às cada vez mais frequentes solicitações por parte de estudiosos, investigadores, jornalistas e do público em geral, para conhecer e estudar esses fundos.
O Museu INATEL é a concretização de uma já vetusta aspiração que remonta à antiga FNAT – Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, que inspirou diversas administrações.
A temática da museologia do trabalho passou a constar das atribuições da FNAT a partir de 1950, através da publicação dos novos Estatutos, que estipulavam competir-lhe, no âmbito da sua ação educativa, «Criar e dirigir museus do trabalho» (6.º, Art.º 5.º, decreto-lei n.º 37836, 24/5/1950).
A ideia da criação do seu próprio Museu do Trabalho, em Évora, remonta, pelo menos, a 1974, iniciativa do então Vice-Presidente Serra Formigal, mediante proposta do Diretor do Gabinete de Etnografia, Tomaz Ribas. Regista a Ata n.º 1326, da Reunião de Direção de 25/1/1974, que, em 19/1 desse ano, se deslocou a Évora o Presidente, Fernando Moreira Ribeiro, acompanhado do Vice-Presidente, Serra Formigal, do Diretor do Gabinete de Etnografia e de funcionários do Setor da Atividade Cultural e Recreativa, com o objetivo de visitarem as instalações da FNAT naquela cidade e realizarem uma reunião de trabalho, com a presença de colaboradores da Delegação. Pretendia-se, designadamente, instalar naquele edifício um Museu do Trabalho do Alentejo.
O ambicioso projeto base, aprovado nessa mesma reunião, visava, entre outras coisas, promover «[…] o relacionamento permanente do Museu com outras atividades que se pretendem desenvolver e que devem corresponder aos interesses do trabalhador inserido, valorizado e identificado no seu meio etno-cultural.» (fl. 3r) Pretendia, ainda, instalar-se naquele edifício, Estúdios de Arte e Convívio, Teatro e de Música, com a possibilidade de realização de espetáculos, concertos e de ensaios de grupos amadores, pequenos cursos, colóquios, palestras, etc., bem como uma biblioteca regional, rádio, televisão e música gravada.
O advento do 25 abril, porém, veio suspender o projeto, ficando a instalação de um Museu do Trabalho em Évora adiada sine die.
Entretanto, nomeada uma Comissão Administrativa da FNAT, através de despacho ministerial de 28/10/1974, foi-lhe incumbida a sua reestruturação, «[…] para a transformar numa entidade realmente ao serviço, racionalmente organizado, dos trabalhadores», tarefa conduzida sob a bitola da «transição para o socialismo» (Restruturação da F.N.A.T., [Lisboa]: INATEL, 1975: 5).
Para o efeito, contrataram-se diversas «pessoas idóneas» para integrar uma Comissão de Restruturação – que incluía um Núcleo de Saneamento e Reclassificação –, entre os quais, o etnomusicólogo corso Michel Giacometti, a quem foi confiada a elaboração de um plano de atuação no âmbito exclusivo da etnografia, folclore e da música.
A intervenção de Giacometti, culminou na extinção do Gabinete de Etnografia, dando lugar ao recém-criado Gabinete de Documentação Operário-Camponês, iniciado em 12/5/1975, mas também ao «saneamento» de Tomás Ribas e sua substituição pelo próprio, como Coordenador do novo Gabinete.
Tecendo duras críticas ao projeto de criação de um Museu do Trabalho em Évora, que classificou de «amontoar de relíquias do passado», Giacometti concebia o seu próprio projeto de museu, através de um protocolo entre o INATEL e a Câmara Municipal de Setúbal.
Como o próprio escreveu, a ideia era «Criar um gabinete de Documentação Operário-Camponesa (Museu do Trabalho) que será um centro de investigação etnográfica e laboral permitindo recolher não só as manifestações artísticas populares como ainda todos os documentos relativos à História do trabalho e das lutas dos trabalhadores através dos tempos em Portugal. Este centro, localizado em Setúbal, poderá tornar-se num ponto de encontro e de estudo das massas trabalhadoras do País.» (Ibid., 14).
Assim, em 5/8/1975, Rogério Paulo, Presidente da Comissão Administrativa do INATEL, envia um ofício àquele Município (n.º 6367), formalizando as conversações já havidas sobre o assunto, propondo que Setúbal disponibilizasse os edifícios do antigo convento ao lado da Igreja de Jesus para a instalação do Centro de Documentação Operário-Camponesa/Museu do Trabalho, ficando a cargo do INATEL, o fornecimento dos materiais para exposição e documentação, incluindo equipamentos para as recolhas etnográficas realizadas em 1975 por alunos do Serviço Cívico Estudantil, assim como pessoal especializado, incluindo o próprio Giacometti.
O Museu do Trabalho de Giacometti, acabaria, efetivamente, por ser criado em Setúbal, sob a alçada do Município e direção do próprio, porém já sem a participação do INATEL, que se viu privado do espólio reunido, cuja recolha financiara (Ata da reunião ordinária da Comissão Administrativa do Município de Setúbal realizada em 1 de setembro de 1975).
Mais recentemente, durante a Administração de José Alarcão Troni (2003-2008), pensou instalar-se no edifício do INATEL em Évora, o seu Arquivo Histórico e Centro de Documentação, bem como um museu institucional.
Esta ideia seria materializada já durante a primeira Administração da Fundação INATEL, presidida por Vítor Ramalho (2008-2012), através de uma candidatura ao Programa Operacional do Alentejo 2007-2013, do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), em parceria com o Município de Évora, no âmbito do Programa denominado de Programa Acrópole XXI que visava o investimento na cidade de Évora no sentido de potenciar todas as suas características. Indo ao encontro da intenção de requalificação do Património da cidade, a Fundação INATEL pretendeu requalificar e apetrechar o Palácio Barrocal, colocando-o quotidianamente à disposição dos habitantes de Évora, com o intuito de ali instalar um espaço museológico, uma biblioteca, um espaço para exposições e o arquivo histórico da Fundação, equipamentos que vão contribuir, certamente, para o enriquecimento cultural e intelectual dos seus visitantes e utilizadores.
Entretanto, durante a Administração presidida por Fernando Ribeiro Mendes (2012-2015), reuniu na Unidade Hoteleira da Foz do Arelho, em 10/2/2015, uma comissão ad hoc para dar início à criação de um museu da Fundação INATEL, iniciativa igualmente adiada, em virtude da mudança de Conselho de Administração, ocorrida em início de 2016.
A escolha do local explica-se pela circunstância de aí existir uma sala museu, criada na década de 1980 por António Palma de Figueiredo, então Administrador do Centro de Férias.
A ideia surgira de uma conversa que teve com um dos jardineiros, que lhe terá relatado que existira em tempos, um molde da perna de Francisco Grandela em gesso, com uma inscrição, que havia sido atirado ribanceira abaixo durante o período revolucionário.
Entusiasmado com a ideia de recuperar a relíquia, Figueiredo deu indicações a alguns trabalhadores do Centro de Férias, para que escavassem o local que lhe tinha sido indicado como provável, acabando estes por localizar o molde.
Na posse do objeto, Figueiredo iniciou, então, uma coleção museológica na Foz do Arelho, que foi aumentando graças às generosas doações dos próprios utentes. Uma dessas doações, neste caso feita por uma antiga governanta do Centro de Férias, consistiu num autorretrato do mesmo Francisco Grandela, datado de 1909, entretanto restaurado e integrado nos fundos técnicos museológicos da Fundação INATEL.
Foi já durante a atual Administração presidida por Francisco Madelino (2016-), que, paralelamente ao importante impulso que foi dado ao Arquivo Histórico e à Biblioteca da Fundação INATEL – ciente da importância de preservar a história da Instituição para as gerações futuras –, se reiniciou o projeto de criação do Museu INATEL, que agora se inaugura. Volvido meio século sobre a primeira iniciativa para a criação do seu próprio espaço museológico, o Museu INATEL é, finalmente, trazido à luz do dia e posto à disposição do público em geral e, em particular, dos eborenses.
Exposições temporárias
Sob consulta